sábado, 31 de outubro de 2009

A fábrica cinza

Pela manhã chego com os olhos inchados
Do sono interrompido
E com um sorriso amarelado no rosto
Para disfarçar a timidez
Os rostos que ontem vi
Hoje vejo novamente,
E as mãos são apertadas com um ar de obrigação.
Em alguns minutos todos parecem tornar-se iguais
No cinza de seus uniformes.
Mera impressão.
Cada qual com seus medos,
Cada qual com seus segredos.
Saindo das bocas
Vejo flutuando palavras vazias,
Reclamações da vida,
Do ontem e do hoje,
Do aqui e do agora
E as discussões do jogo de ontem.
Os lábios silenciam repentinamente
Ao ser notada a presença do “Homem sem uniforme”
Que me faz mil perguntas
Das quais já sabe todas as respostas,
Mas gosta de me testar
E gosta de sentir-se superior
Perante a nós.
Mais tarde o “Homem de terno” desce suas escadas
Me pega de surpresa,
Olha fundo nos meus olhos,
Sorri
Como se estivesse feliz,
Aperta minha mão
Como se fosse meu amigo.
Aperto sua mão
Mas sem o mesmo sorriso falso
Porque eu não sou seu amigo,
Não finjo ser seu amigo
E não quero ser seu amigo.
Eu sei que quando na sua sala as luzes se apagam
Pela janela desconfiado você nos observa
E procura pelos nossos atos falhos
Pelos nossos defeitos,
Mas não repara no seu próprio desespero
Escondido em algum lugar no escuro desta sala.
Minhas mãos mecânicas
Passeiam por entre os fios
E minha mente se perde
Pensando em alguém que está distante.
Sou interrompido pela rouca sirene do almoço
E quando volto ao exterior
Não me recordo onde parei
Percebo o quanto rápido o tempo passou enquanto estive fora.
Vou de encontro á comida
Que eu tenho que engolir sem vomitar
E depois ao livro que eu leio sentado ao sol,
Até novamente ser interrompido pelo grito rouco
E levantar com as pernas quase dormentes
Para voltar para a sombra da fábrica cinza.
Penso apenas que hoje vou esticar o expediente,
Pois tarde da noite quero em casa chegar,
Entrar e ir direto me esconder
No barulho do silêncio do quarto
Sem ter que discutir com minha mãe

Que há muito tempo deixou de me entender.

2 comentários:

  1. a poesia é bacana e tals mais este amarelo esta muito poparte.rs

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  2. Muito lindo esse poema apesar de triste pelo teu descontentamento com o trampo

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